Investir com um robô pode mexer com o seu bolso e o seu emocional
- Téo Lemann
- 28 de abr. de 2019
- 5 min de leitura

Em tempos de crise, qualquer trocado pode ser fortuna. Educação financeira ainda é uma prática pouco comum no paraíso das poupanças e das dívidas, mas se surgisse uma ferramenta que pudesse de gerir o seu dinheiro com ganhos maiores e mais facilidade? Com ajuda da tecnologia, há quem garanta essa promessa: os robôs de investimento. Seja para quem tem muita grana ou para quem tem pouca, a certeza da máquina é apenas uma: controlar os impulsos de quem investe.
"O investidor é muito impactado pelas emoções. Principalmente o investidor não profissional. Ele está investindo o dinheiro que juntou, ele está ralando e investindo o que ganhou ali. Você não quer perder dinheiro, e o tempo todo você tem medo".
O jogo do mercado é muito impactado pelas emoções dos jogadores, dizem os especialistas. E investir dinheiro funciona quase como uma aposta, nada é garantido. Um dia você ganha e no outro pode perder. Por isso, a tecnologia surge como um ajudante na missão de fazer quem quer investir perder o medo e pensar em boas formas de investimento.
"Um robô não lida com fatores emocionais, ele pode ser programado para esperar determinadas reações do mercado. Então para pessoas impulsivas, vale a pena essa ajuda". "Só é preciso respeitar a decisão do robô. Na hora do vamos ver, a pessoa entra em desespero e tenta alterar a programação do robô".
"O medo é um sentimento que atrapalha muito, mas o contrário também é ruim. A ganância atrapalha. Quando você ganha uma, duas vezes, você pensa que podia ter colocado mais, pega dinheiro emprestado e acha que isso significa casa nova, viagem e começa a se endividar, pega um dinheiro que não pode e coloca na renda variável e perde tudo".
Há, portanto, um embate forte sobre o conflito de interesse, uma vez que quem opera os robôs são humanos como todos nós. "Toda vez que você tem um mercado controlado por algoritmo, você vai conviver com vieses de um pequeno grupo de decisores, de como vai ser a estratégia desse algoritmo e, em algum momento, isso vira uma caixa preta, você começa a ter resposta, mas não entende como isso chegou". "Entregar totalmente a decisão ao algoritmo, tem uma dose saudável. Quando está no suporte é bacana, mas totalmente é um risco", avalia.
Confiar cegamente no robô pode ter seu preço. Em 2013, uma postagem no twitter da agência de notícias Associated Press (AP) foi capaz de abalar o mercado financeiro americano. Uma mensagem de 71 caracteres conseguiu causar um estrago em Wall Street e fez a Bolsa de Valores norte-americana despencar. O tweet dizia que havia acontecido uma explosão na Casa Branca e que o presidente Barack Obama estaria machucado.
Bastaram poucos minutos para que a notícia fosse desmentida e a AP admitisse que havia sido hackeada. A agência recuperou sua conta e apagou a notícia, mas o impacto no mercado foi intenso. O índice Dow Jones industrial caiu 143 pontos, e o índice S&P 500 perdeu capital de US$ 136,5 bilhões.

Em apenas seis minutos, o estrago foi feito e desfeito. Os grandes players do mercado voltaram a ganhar dinheiro rapidamente. Para especialistas, o fato mostra que o mercado norte-americano foi dominado por robôs responsáveis por investimentos. "Foi tão instantâneo que claramente foi robô. Foi muito rápido para alguém ler aquilo ali e tomar alguma ação".
Cerca de 70% das operações americanas hoje são feitas por meio dos chamados robôs traders. No Brasil, as operações de alta frequência (feitas por algoritmos) representam cerca de 33% das operações da B3, a Bolsa de Valores brasileira. Assim como os bancos se digitalizaram, a bolsa brasileira também passou por um processo de informatização nos últimos 20 anos. O pregão com um monte de gente gritando e correndo para negociar ações ficou para trás.
Para especialistas da Assetf(X), foi um processo de evolução até aqui. "Uma das consequências diretas foi o aumento do número de ofertas enviadas para o ambiente da B3 e aumento do número de negócios realizado nosso ambiente. Hoje, o número de negócios é muito maior do que há cinco anos", afirma Mario Palhares, diretor de operações da B3.
Neste contexto, velocidade pode ser um trunfo. Tem mais chance de ganhar quem tiver o robô mais rápido para fechar negócio. "Tem uma história de grandes bancos nos EUA brigando por um prédio que ficava perto de um instituto que dava um índice de desemprego porque quando mais perto desse prédio, mais rápido eles iam receber a informação e poderiam processar uma operação no mercado"
No Brasil, a velocidade de alcance dos robôs ainda não é prioridade para todo tipo de investidor da Bolsa, segundo Palhares. "É importante para quem tenta arbitrar mercados diferentes. O robô serve para uma facilidade operacional para o investidor".
Para além da velocidade, a chave de ouro para quem quer ganhar dinheiro está no processamento de informações. "Os robôs percebem movimentos que um analista não consegue. Eles estão tentando ler notícias e captar sinais perigosos, como um escândalo com político, eles ganham a capacidade de ler notícias justamente para atuar no mercado de forma mais rápida".
Segundo especialistas, ainda não há robô que possa prever o futuro. Há, porém, aqueles que podem aprender com o passado. O Assetf(x) porém, utiliza sistemas computacionais de estratégias automatizadas para conseguir dinheiro com investimento na Bolsa durante seu doutorado, se destacando da maioria dos sistemas de inteligência artificial hoje disponívels. "Acreditamos que o Assetf(x) está aproximadamente 5 anos na frente dos demais robôs existentes hoje".
Para ajudar a bolar uma boa estratégia, a tecnologia também já está à disposição na forma dos robôs chamados advisors (orientador, em inglês). Por meio de uma análise de perfil do investidor e dos objetivos do cliente, o robô determina para onde deve ir cada fatia do dinheiro aplicado, dividindo-o entre opções de maior, médio e menor risco.
Este tipo de robô está mais acessível para quem tem pouco dinheiro para operar. A teoria base, chamada de Teoria Moderna do Portfólio, para esse tipo de robô data de muito antes da sequer existência dos computadores como os conhecemos hoje e foi vencedora de um Prêmio Nobel de Economia nos anos 1990. Basicamente, os advisors usam a tecnologia para aplicar a fórmula da teoria e dividir os ovos em diferentes cestas.
"Era muito caro aplicar essa fórmula, ela é muito complexa, precisa de muitos dados, muito conhecimento, então pra ter esse tipo de investimento era um cara que tinha muito dinheiro, muito investimento. Tudo era feito na unha, precisava de um capital intelectual muito forte pra fazer isso. Os robôs advisors pegaram o benefício da tecnologia para permitir fazer isso com pouco dinheiro, automatizou todo esse processo".
Os advisors são uma opção para quem tem menos grana e quer investir como pessoa física. Há, no Brasil, pelo menos cinco empresas que oferecem esse tipo de serviço. Não existe uma contagem certa de quanto dinheiro de quantos clientes todos esses robôs juntos operam no país, mas não é pouco.
A eficiência do robô, no entanto, está mais nas mãos de quem o programa do que do investidor. "A inteligência que está por trás não é artificial, é humana ainda. O algoritmo vai ser tão eficiente quanto for o ser humano que o programou. Ele pode aprender a partir de novos dados, mas a inteligência ou a eficiência vai depender do programador".
Um serviço de robô advisor, o futuro reserva uma divisão de tarefas no mercado financeiro entre especialistas humanos e a tecnologia. "Por trás de robôs têm seres humanos, estamos pegando o que o humano faz e deixando mais eficiente", afirma. "Uma analogia: procurar um livro ou dar um Google para tirar uma dúvida? O Google é mais rápido, te dá uma resposta em milissegundos. O paralelo para os investimentos é semelhante".
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